O governo colonial português, na década de 50, utilizava-se do discurso luso-tropicalista de Gilberto Freyre como propaganda publicitária e como um meio de barrar os movimentos independentistas. Freyre via a miscigenação como fator positivo e os governantes utilizavam-se desta tese para divulgar a capacidade lusitana de criar “sociedades multirraciais”, que na verdade mascaram o real motivo: a manutenção do sistema colonial.
Tal divulgação fazia com que aumentasse o número de portugueses que migravam para Angola, acreditando na propaganda luso-tropicalista de que enriqueceriam em terras africanas, pois foi nessa época que houve um crescimento na produção de café. Os brancos que se mudavam para a Angola eram geralmente analfabetos, no entanto eram eles que ocupavam a maioria das vagas de emprego oferecidas, ou seja, a presença de europeus só fomentava a disputa econômica e incentivava atitudes racistas pelos “pequenos brancos”.
Essa situação acabou por estimular a resposta dos nacionalistas anticoloniais, que começaram a preocupar-se em realçar a identidade africana como instrumento de contestação do regime. Tudo começou com rodas de leitura e a criação da revista “Mensagem”, que teve um curto prazo de duração (1951 a 1952), porém passou a ser o principal meio de repercussão e tornou-se um lugar de encontro e discussão. A ideia começou a ser espalhada para outras regiões, dava-se início a um processo de articulação política com influências do pensamento marxista provindas dos trabalhadores marítimos, dos exilados, brancos marxistas e estrangeiros. Grande parte do pensamento era oriunda do Brasil e tinham como materiais: panfletos, revistas, livros de formação política e romances de Jorge Amado e Graciliano Ramos, todos com o objetivo de difundir o pensamento marxista.
A influência brasileira também é notada na imprensa, devido à criação de canais de livre acesso, rádios e jornais, como por exemplo, o “Jornal de Angola”. Até mesmo o estatuto do Partido Comunista de Angola assemelhava-se ao do Partido Comunista do Brasileiro.
Os movimentos independentistas foram ganhando força e, em 1950, o governo de Luanda executou uma operação que resultou na prisão de vários suspeitos de conspiração contra a soberania portuguesa, o que ficou conhecido como o “Processo dos 50”. Apesar de esta ação ter soado como um golpe aos nacionalistas, estes ganharam destaque em âmbito internacional e derrubaram o discurso luso-tropicalista salazariano.
Referências
BITTENCOURT, Marcelo. As relações Angola-Brasil: referências e contatos. In: Brasil/África como se o mar fosse mentira. Org. CHAVES, Rita; MACÊDO, Tânia; SECCO, Carmen. São Paulo: Editora UNESP; Luanda , Angola: Chá de Caxinde, 2006.
Subtema: “Cruzando o Atlântico: as migrações entre comunidades lusófonas nos períodos de guerra civil”
Integrantes: Caio Costa Sousa/Jéssica Laine Santos de Paula Jacovetto/Laís Siqueira Ribeiro Cavalcante/Laura Soares Xavier
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