domingo, 22 de maio de 2011

O preço do desenvolvimento

Uma combinação de falsas promessas, péssimas condições de vida e trabalho, doenças, e um tratamento desigual para as diferentes etnias eram o que aguardava trabalhadores de todo o mundo que, de alguma maneira, atraídos pelas possibilidades de mudança de vida configurada com o grandioso empreendimento chamado Canal do Panamá se deslocavam para essa região.
O ano de 1913 quase atingiu a marca de 40 mil trabalhadores, que vinham dos mais diversos lugares: Estados Unidos, Panamá, Índias Ocidentais (grupo de ilhas que separam o Mar do Caribe do Oceano Atlântico), Europa e Ásia. O ano de 1906, por exemplo, recebeu cerca de 2.600 europeus e quase 9.500 nativos daquelas ilhas. A base da força de trabalho, entretanto, era constituída por tais nativos, cujo trabalho era mais barato e mais fácil de ser recrutado. Nesse sentido, surgiam “benefícios” nos contratos de trabalho, como por exemplo, passagem de graça para o Panamá concedido aos trabalhadores vindos de Barbados. Porém, a realidade encontrada era completamente diferente daquela prometida. Havia a selva e os perigos naturais trazidos por ela, as acomodações disponibilizadas que não garantiam proteção, ou ainda, a falta de higiene no local que fez com que surgissem doenças como desinteira, infecções cutâneas, varíola, ancilostomíase, e inclusive, a peste bubônica. Sem esquecer-se da febre amarela e da malária, sendo a última responsável por hospitalizar 21 mil dos 26 mil trabalhadores do canal em 1906.
Uma espécie de apartheid se instaurou nessa região durante a construção. Teve início com a divisão entre trabalhadores “qualificados” e “não qualificados”, no entanto, com o passar do tempo, essa divisão se intensificou e atingiu um nível baseado em diferenças étnicas. Os chamados “qualificados” recebiam pagamento em ouro, auxílio quando estavam doentes, direito às férias remuneradas, e estavam instalados em acomodações melhores que as dos “não qualificados”, que eram pagos com a moeda do Panamá ou com prata. Trabalhadores das Índias Ocidentais chegavam a ganhar por hora metade do que um europeu ou um norte-americano, e quase todos, em algum momento, foram destinados a desenvolver o trabalho considerado mais perigoso, o que envolvia explosões. Nos últimos anos da construção, o sistema de pagamento em ouro e todos os benefícios citados anteriormente, se destinavam, exclusivamente, aos brancos norte-americanos e, o segundo sistema, de pagamento em prata ou em moeda panamenha, se destinava, em grande parte, aos trabalhadores não-brancos.

 Biblioteca do Congresso - Trabalhadores espanhóis utilizando as mãos como pá

É fato que essa magnífica obra da engenharia possibilitou uma série de facilidades e diminuição de gastos, e o grande exemplo é a alternativa em relação à volta no continente americano, porém, deve-se observar o preço para tal empreendimento. As condições de trabalho transformaram-se grandemente, sobretudo no que diz respeito às condições sanitárias e ao regime segregacionista desenvolvido no período da construção. Isso não exclui, entretanto, o surgimento de polêmicas envolvendo a luta dos panamenhos dentro desse projeto, nesse sentido, surgem os problemas desses para “interagir no andamento da modernização do Canal, [...], já que as empresas acionistas escondem informações preciosas que vão interferir na vida de muitos panamenhos, atrás de uma política de propaganda e nenhuma transparência”¹.

Referências

PANAMENHOS exigem transparência e menos propaganda sobre o Canal. Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=8456>. Acesso em: 10 maio 2011.

THE WORKERS. Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/general-article/panama-workers/>. Acesso em: 10 maio 2011.

Integrantes: Barbara Ellynes Zucchi Nobre Silva / Bruna de Fátima Brito Ferreira / Júlia Silva Salgado

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